domingo, 28 de outubro de 2012


I Quem tem cor age:
desmistificando o racismo à brasileira 

Quando a questão do racismo no Brasil começar a sair dos livros, artigos, dissertações e teses de pesquisadores, quando deixar de ser problema do negro para se tornar preocupação de todas as forças e instituições do país, quando sairmos da fase do belo discurso e das boas intenções sem ações correspondentes, poderá dizer então que entramos na verdadeira fase de engajamento para transformar a sociedade; estaremos saindo do pesadelo para entrar num sonho, e do sonho para entrar numa verdadeira esperança.[1]

No Brasil, desde os anos 70, o Dia da Consciência Negra vem sendo comemorado no dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, o primeiro grande símbolo da luta dos negros no Brasil. A importância da comemoração dessa data não se limita à lembrança de um momento histórico e fortalecimento de Zumbi como um verdadeiro herói negro no Brasil, mas reforça a cada ano a importância de que o povo negro conquiste sua liberdade de fato e escreva sua própria história.
Daí a importância da apropriação de espaços e discursos acadêmicos, afinal a participação de intelectuais nos debates sobre os rumos da sociedade brasileira é algo que vem de longa data e a vinculação entre reflexão teórica e compromisso político é bastante comum e, por que não dizer, interessante. No que diz respeito às dinâmicas das relações raciais nesta sociedade de passado escravista e presente ainda racista, opiniões diferentes e, não raras vezes, divergentes vêm sendo construídas, mantidas e/ou reformuladas.
As relações raciais no Brasil foram estabelecidas de maneira muito particular. Marcada pela ideia constante de que o massivo processo de miscigenação – que caracterizou todo o período colonial até tornar-se uma política declarada de branqueamento da população, sobretudo por meio da imigração europeia – tornava o Brasil um país menos racista e mais tolerante com a diversidade racial que o compunha.

acreditava-se ainda que o ideal de democracia racial, característico do país, era uma ideologia suficientemente forte e progressista para abrigar e proteger a mobilização política e cultural dos negros. Apenas depois de rompida a ordem democrática, em 1964, tal crença foi considerada uma “ilusão” e a democracia racial, um “mito”[2]

Tal argumento levou à formação do chamado racismo à brasileira “que percebe antes colorações do que raças, que admite a discriminação apenas na esfera privada e difunde a universalidade das leis, que impõe a desigualdade nas condições de vida, mas é assimilacionista no plano da cultura”[3].
Atualmente o movimento negro acumula uma série de conquistas, mas a situação ainda está muito aquém do que se espera e necessita para que haja, de fato, um cenário de igualdade e democracia racial. A realização do I Quem tem cor age: desmistificando o racismo à brasileira vem contribuir para os debates e mobilizações para a conquista dos direitos e espaços historicamente negados. Busca reunir intelectuais acadêmicos, intelectuais militantes, representantes da comunidade campineira e integrantes de grupos do movimento negro – a partir do reconhecimento da importância política de todos nesse processo − em torno do debate público sobre as relações raciais no Brasil. Nesse sentido, a proposta passa por fomentar o debate acerca da relação entre racismo e conhecimento científico . Daremos espaço para diferentes áreas do conhecimento que abordem a temática racial.
A atividade está prevista para se realizar entre os dias 12 e 29 de novembro. Na Casa do Lago.





[1] Kabengele Munanga, As facetas de um racismo silenciado, In: Lilia Schwarcz e Renato da Silva Queiroz (orgs.), Raça e Diversidade, São Paulo, Edusp, 1996, p. 218-219.
[2] Antonio Sérgio Alfredo Guimarães. Acesso de negros às universidades públicas. Cadernos de Pesquisa, n. 118, mar. 2003, p. 247-268.
[3] Lilia Moritz Schwarcz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na intimidade. In: Schwarcz, Lilia Moritz (Org.). História da vida privada no Brasil: contrastes da intimidade contemporânea.